quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Excerto 2º - Sobre ser um verme ou um Deus
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Excerto 1º - Sobre a oposição entre a fé e a razão
Razão e espírito; bem e mal; e outros “pares de opostos”, como comumente são chamados. Uma bipolaridade que nos confunde as idéias, e a partir daí, a percepção da realidade. Opõe-se o desenvolvimento racional à uma evolução espiritual, que se sugere como algo mais sutil e que exige uma sensibilidade mais aguçada. Uma entrega ao que é divino e uma renúncia ao que é humano e material; chamamos a isso de fé... atitude que “remove montanhas” e que os cálculos matemáticos não podem conceber. Sublime é a ignorância dos que tem fé e que rejeitam o empirismo como sendo pecado e blasfêmia. Não se permitem sentir o que está submetido à sua crença na existência. Pois se a física quântica vem nos sugerir hoje um retorno às meditações místicas da antiguidade, como podemos opor racionalismo a espiritualidade? Apenas o foco é outro, mas o objeto se preserva mesmo que se revalorizando. Essa mesma racionalidade criticada é exercitada quando separamos em gavetas as dimensões da existência. Ora deambulando pelos domínios do espírito, ora, em outra rota, no que concerne a matéria e ao racionalismo; se divide em gavetas a unidade vital, e se confunde a existência em cansativas classificações, e segregações e conceitualizações. Se se sugere que o racionalismo é esterelizante e que nos impede de alcançar a “iluminação”, dada em cartilhas (ainda mais esterelizantes) por inúmeras linhas filosóficas. Se se sugere que se a espiritualidade nos conduz à uma bem-aventurança, à um estado de espírito auto-suficiente, realizado e desenvolvido. Mas o racionalismo trouxe algo magnífico: a exploração do que inquestionavelmente chamávamos de espírito e espiritualidade.
* Imagem do filme Andrei Rublev.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Abertura
Mas, para que revelar aos outros as inconstâncias que me são tão íntimas e talvez incompreensíveis por quem vê de fora?
Não sei!
Talvez os possíveis leitores possam me ajudar a esclarecer.
No momento, apenas uma tentativa de poetizar os dias cinzentos; ou de concretizar um conselho de um amigo.
"Já haviam me alertado que não degustaria a mais fina culinária de São Paulo. Nem ao menos os sabores artificiais mais realçados que despencam das prateleiras dos supermercados. O prato do dia (do café da manhã; do da tarde; do almoço; da janta...) seria macarrão. Molho de tomate. Com carne pra eles. Sem carne pra mim.
Mas, já com sorte, não comi só macarrão. Ovo cozido, arroz e batata palha fizeram da mesa o ponto de convergência pra jogar conversa fora numa tarde cinzenta, após acordar tarde num domingo qualquer. Um pequeno altar no canto direito da sala, embaixo da janela; dois ou três quarteirões abaixo da Avenida Paulista; o som de "Listen" do Talib Kweli ainda fresco na cabeça, floreado pela imagem de lindas negras com seus lábios fartos, cabelos enfeitados e cheiros encantadores.
No meio de poetas, eu me sentia insensível por não escrever poesia. Paradoxalmente, havia sido chamado de gay, mesmo que indiretamente, por carregar na mochila um bottom da Amelie Poulain.
- De quem é esta mochila?
- É minha!
- Amelie Poulain, cara?! Isso é coisa de menina.
- Ah é?!
Nunca entendi o motivo pelo qual ser comparado a uma mulher consiste em xingamento. Neste caso em particular, entendi que aparentava, por carregar o bottom e pela natureza do filme, ser uma pessoa sensível, sutíl e delicada. Como a Amelie Poulain. Ou, como uma menina. Mas assumir tal situação já é motivo mais uma vez de olhares atravessados que conduzem de novo ao ponto inicial:
- 'Pessoa sensível, sutil e delicada, cara? Isso é coisa de menina'.
Insensível ou não, nunca fui poeta, como os caros colegas que compartilhavam a refeição comigo. E minhas prosas, ou meus sub-versos, nunca foram revelados, se não à amigos íntimos. Mas estavam escritos, dispersos, espalhados por qualquer canto de minha casa. Mas eis que vem a provocação de um verdadeiro provocador:
- Por que você não faz um blog e taca suas coisas na net?"
Eis o blog. Eis os sub-versos tacados na net.
Contrário a proposta inicial, na qual eu não revelaria minha identidade, assumi quem sou eu e todas as possíveis implicações dessa postura. E em troca, por gratidão, revelo o provocador, que apesar de novo amigo, me soa tão antigo e caro: João.